Há algumas semanas, vimos a morte brutal do congolês Mooïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos no Rio de Janeiro, ele foi espancado até a morte por quatro homens, aparentemente sem nenhuma justificativa para tal atitude. De acordo com relatos de familiares, o jovem negro foi ao quiosque onde foi morto e trabalhava, para cobrar duas diárias de trabalho que ele não havia recebido. Ninguém nunca vai saber qual foi o real motivo de sua morte, mas o que vemos neste crime é o racismo que predomina no Brasil.
Aqui, é comum vermos insultos, humilhações, agressões físicas e verbais dirigidas aos negros, e por isso ser uma constante, acaba sendo tratado por muitas pessoas como algo banal, de tão comum que se tornou. O Brasil passou por 133 anos de escravidão, 35 milhões de negros foram trazidos para o país para trabalharem em regime de escravidão nos tempos de colônia, essa lógica de que o negro é um ser inferior apenas pela cor da sua pele é algo que está enraizado em nossa cultura desde essa época.
E assim o racismo social comanda todas as esferas da sociedade, uma vez que os negros, na maioria das vezes trabalham em cargos inferiores aos dos brancos, sendo estigmatizado apenas como uma “tracão muscular”, o que faz com que eles trabalhem majoritariamente em serviços braçais e pesados, como trabalhador manual desqualificado.
Por isso, quando ele recorre aos seus direitos trabalhistas previstos em lei a qualquer cidadão brasileiro, acaba sendo visto como inimigo da ordem e sofre represálias por isso, e assim surgem a violência da polícia, da própria sociedade civil, que aparecem em forma de intimidação, repressão e até humilhação. Os negros representam 53,6% de toda a população brasileira, mas apenas 12% de toda a população preta possui nível superior, contra 31% dos brancos. O sistema de cotas nas universidades surgiu para diminuir essa diferença brutal, e mesmo assim em alguns cursos a presença deles não chega a 30% da turma.
O racismo estrutural que impera no país vai muito além disso, uma pesquisa feita recentemente pelo Instituto Datafolha mostra que no Rio de Janeiro, 79% das pessoas que tiveram a casa revistada pela polícia, sem motivo ou mandato algum eram negros. A mesma pesquisa do Datafolha mostra ainda que 63% das pessoas paradas pela polícia são negras, que são também 74% das que já viram parentes ou amigos serem mortos pela polícia. A pesquisa aponta também que 17% dos negros entrevistados já foram abordados mais de dez vezes pela polícia.
O racismo vai muito além de um crime de homicídio. Em Itu, a moradora Rosália Maria Rodrigues de Campos passou recentemente por uma situação de racismo nas redes sociais, ao participar de um programa de podcast, o “Pretos de Itu”. Junto com os apresentadores ela ela foi ofendida através da web, com insultos e xingamentos. O assunto foi destaque na mídia local e regional e o casal fez um boletim de ocorrência.
Esse tipo de situação é vivida por muitas pessoas pelo país inteiro. Para entender e compreender como essa enorme desigualdade racial e consequentemente social surgiu no país e que se perpetua até hoje é preciso analisar os fatos desde a sua origem. O Brasil foi a última nação do Ocidente a abolir a escravatura, e não criou nenhuma condição para a inserção digna dessa população na sociedade.
Com isso, o racismo estrutural foi sendo construído como um processo histórico que hoje “tende a hierarquizar as multiplicidades cultural e étnica, criminalizando aquele que não interessa a identidade nacional”, destaca o professor Silvio de Almeida, profundo estudioso do tema. Seguindo essa lógica, com a inferiorizarão e a retirada de valores materiais e simbólicos dos negros, há a formação de um ciclo de desvantagens direcionado a eles, o que acaba colocando os brancos em um sistema de privilégios, tornando esse tipo de comportamento como algo natural.
- Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com
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Publicado em February 19, 2022.
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