in

Samba de Bumbo retoma atividades em Itu

A condução dos trabalhos ficou a cargo de Mestra Natalina, sobrinha de Osvaldo e de Lupércio Caetano, antigos e conhecidos sambistas nas décadas de 1930 e 1940 (Foto: Paulo Aranha/Divulgação)

No dia 13 de abril, na Vila Ianni, em Itu, uma antiga tradição ituana, que há muito tempo adormecia, renasceu: o Samba de Bumbo, antigamente conhecido como Samba de Terreiro ou Samba Rural Paulista. O despertar dos batuques ocorreu durante uma cerimônia de batismo. Um dos bumbos de Osvaldo Caetano, antigo mestre ituano do Samba de Bumbo, encontrava-se cimentado no sótão de sua residência, onde atualmente mora sua filha Maria Benedita Caetano, e foi o protagonista, após restauração, do ressurgimento, após 50 anos adormecido, de uma das mais populares tradições dos povos de origem africana estabelecidos no Brasil.

O acordar do Bumbo Ventania e o batismo dos tambores novos do samba de Itu foram conduzidos pelos membros dos grupos de Samba de Bumbo ligados, por suas relações afetivas, com o antigo grupo ituano. Samba de Bumbo do Cururuquara, de Santana do Parnaíba (SP), e Samba do Nestão Estevam, de Campinas (SP), marcaram presença. A condução dos trabalhos ficou a cargo de Mestra Natalina, sobrinha de Osvaldo e de Lupércio Caetano, antigos e conhecidos sambistas nas décadas de 1930 e 1940. 

“Acordar um bumbo é respeitar o tempo da ancestralidade da população negra. Os museus nesse processo são menores do que as memórias da população, mas juntos, instituições trabalhadoras de museus podem promover encontros, caminhar e exercitar a escuta e o diálogo”, afirma Aline Zanatta, educadora do Museu Republicano de Itu/USP.

Aline participou do momento em que Mestra Natalina se deu conta da importância de sua família para a história do Samba de Bumbo ituano. “Em janeiro de 2018, no Museu Republicano, Natalina ouviu o bumbo do mestre Alceu José Estevam. No ano seguinte, compartilhou suas histórias e lembranças”, conta a educadora. Então, Aline se empenhou em unir importantes nomes e instituições da cidade para recuperar essa memória de uma tradição tão presente no início do século 20 na cidade de Itu.

Hoje, Mestra Natalina revela como foi esse momento em que despertou para a riqueza e importância do Samba de Bumbo de Itu. “Assisti uma aula do Mestre Alceu, no Museu Republicano, e fui me dando conta do quanto que era importante para a minha família esse samba. Senti até uma pontinha de remorso pela família que poderiam ter dado continuidade a esse grupo. Então, resolvi assumir isso em honra de todos aqueles que um dia já se foram, que gostavam, que faziam parte disso”, finaliza.

Registros do historiador ituano Octavio Ianni revelam que a tradição do Samba de Bumbo, em Itu, surgiu após a proclamação da libertação dos escravos no Brasil, em 1888, e perdurou com bastante intensidade até a década de 1940. Durante este período, libertos, os negros voltaram a sambar e a atual praça Dom Pedro I tornou-se o principal palco desta cultura oriunda da África que se enraizou no Brasil. Em 1955 houve uma retomada da tradição, que durou por mais cerca de 15 anos, até 1970, quando foi definitivamente adormecida.

Viabilizado pela Fundação Energia e Saneamento e Museu da Energia de Itu, através de emenda parlamentar da deputada estadual Monica Seixas (PSOL), o projeto de samba de bumbo em Itu é uma realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas. “Descobri no quintal da Família Caetano que o Samba de Bumbo foi precursor do Samba Paulista. Que o Brincar do Samba de Bumbo deu origem aos Cordões e depois às escolas de Samba. Tivemos na nossa cidade um mestre. E toda essa história estava cimentada num sótão. Fico feliz em assistir o renascer dessa história”, afirma a deputada.

Para Monica Seixas, há deferências, museus, datas comemorativas e festas destinadas a muitas tradições dos povos que formaram o Brasil. Mas há uma completa ignorância da contribuição do povo negro. Segundo ela, negros e negras contribuíram para a construção da identidade nacional, e o Samba de Bumbo e o Bumbo Ventania da Família Caetano de Itu são uma dessas histórias apagadas. 

Rita Martins, diretora executiva da Fundação Energia e Saneamento, ressaltou o compromisso da instituição com as manifestações da cultura popular e negra da cidade de Itu e a importância deste trabalho em rede, que une os Museus da cidade em prol do Samba de Bumbo que renasce, segundo ela, agora nutrido pela força e potência das mulheres. “A Fundação Energia e Saneamento, mantenedora do Museu da Energia de Itu, agradece à Dona Natalina por confiar em nossa instituição como proponente da emenda parlamentar apresentada à deputada Monica Seixas”, finaliza.

O post Samba de Bumbo retoma atividades em Itu apareceu primeiro em Jornal Periscópio | Jornal do Povo.

Itu receberá mais de 10 mil doses da vacina contra a dengue

Cartório Eleitoral faz plantão dia 1º e no final de semana para eleitores “atrasados”