Enquanto todos se divertiam, eles trabalhavam. Enquanto todos descansavam, eles trabalhavam. Atualmente, enquanto outros trabalham, eles aguardam o “novo” normal que já não é tão novo e não sabem mais quando tudo vai passar.
Tiveram que se reinventar e se readequar em um novo estilo de vida. Sem festa, sem aglomerações, sem eventos. Foram os primeiros a pararem e temem que sejam os últimos a voltarem.
Entrevistamos diversos profissionais de eventos, que contam suas batalhas para se manterem sem renda, sem casamento, sem quermesse, sem shows.
O altar tem que esperar ….
A cerimonialista Fernanda Mariáh, 36 anos, trabalha organizando festas de casamento há 9 anos. O trabalho continuou, mesmo durante a pandemia, pois o evento em si é apenas 20% de todo seu trabalho: dar suporte para a ansiedade e expectativa da noiva é grande parte de todo o resto. A sua própria ansiedade é disfarçada com remédios.
Solteira, morando apenas com a avó, ela teve no começo da pandemia, um grande desafio: D Wally ficou doente, mas não de Covid-19. Encontrar atendimento e tratamento médico foi uma saga.
Atualmente, tem casamentos marcados para 2023. “Quem quer festona, com aglomeração, vai ter que esperar. Mas quem quer só casar, já casou, como deu“, diz. No isolamento, descobriu um novo talento: influencer digital. Entre lives e promoções, vai se mantendo conectada. E renovada. “Eventos são glamours, muitas vezes eu me deixei levar por isso, ostentava minha noiva, minha festa… hoje acho que o vírus ensinou a gente a ser mais simples, a valorizar o que realmente importa”.
Quando tudo isso passar, ela acredita que haja festa! “Vão criar motivos para comemorar qualquer coisa. Vai ser um boom na nossa área… “
Sem festas e sem fogos
No início da 2020, Marcelo Bomba imaginava que iria estourar o ano com muitos eventos. Ele trabalha com fogos de artificio, em casamentos, festas eletrônicas e religiosas. Passou o Carnaval, chegou Covid-19. “Eu não acreditava nessa doença. Achava que era igual a H1N1, dali uns dois meses tudo ia voltar ao normal. Mas não foi assim…”, lamenta.
Junto com a agenda cancelada, chegaram as notícias ainda mais tristes: colaboradores e amigos ficando doentes. “Quem trabalha com eventos se reúne para descansar, fazer um churrasco, nas terças e quartas. Perdi amigos que se reuniam nestas confraternizações. Meu sobrinho pegou, meu tio morreu. Essa doença e terrível!”
Terrível também é ver a renda despencar em 80%. “Não tivemos ajuda de ninguém, nem Federal, Estadual ou Municipal. Eu tinha colaboradores que hoje estão pegando recicláveis para sobreviver”, conta. Ele teve que se reinventar: com sua simpatia, hoje atende pessoas idosas, com entregas, transporte, compras.
E se prepara para uma nova realidade, talvez com uma nova profissão. “Eu creio que isso vai demorar bastante tempo para terminar, e quando tudo isso acabar, iremos enfrentar um novo normal, tudo diferente… Atualmente, penso em mudar de ramo, pois sem apoio, está muito difícil…”
Do palco à pesca
Em 15 de março de 2020, Zeca Modena e sua equipe encerravam a quermesse de São José. Tinha sido mais um final de semana de música, alegria, e muito trabalho: toneladas de equipamentos e estrutura de palco montadas. Som, luz!
Tudo se apagou antes do fim da festa, que terminaria no outro final de semana. “Eu confesso que acreditei que em três meses tudo iria voltar ao normal”. Atualmente, faz parte de um grupo de produtores de eventos do Brasil todo, e a expectativa é que grandes shows aconteçam apenas a partir de 2023.
Os funcionários foram demitidos, o caminhão está parado. Mas Zeca, aos 50 anos, nunca foi de ficar estacionado. Comunicador e empreendedor nato, hoje atua na área de pesca, com consultorias para profissionais e amadores, além de um canal no Youtube.
“Itu tem um potencial incrível, temos 12 pesqueiros. O Maeda é o mais conhecido, é uma referência, tem gente pescando todo dia”, explica. Um setor sem aglomeração em que o dinheiro gira. “Recebemos pessoas de todo o Estado, de todo o Brasil”.
O Covid-19 foi uma isca traiçoeira e levou um grande amigo e patrocinador de seu canal. “O Chicão, do Massa Bruta, não pôde nem ter velório. Lutou tanto pra isso… isso me deixou bem abalado e acho que nunca mais vai ser como era antes. Eu quero ficar mais perto da minha família, pois a gente trabalha, trabalha, e fica tudo aí… “
Pedala, Dj!
Fernando Ricci talvez você não conheça, mas quando se fala em DJ Kunnta todos sabem quem é. Acostumado, há 29 anos, ter uma rotina em meio a luz, música, festa, hoje ele sente falta. Ele e os irmãos, Dj Kelvin e Lilian Ricci, trabalham com eventos e estão na expectativa de um retorno, enquanto vêm as portas dos clubes e salões fechados.
A saída para manter a saúde mental é pedalar, para ver gente, sentir o vento no rosto, e economizar, já que a renda caiu pela metade, enquanto os preços no supermercado dobraram. A bicicleta é seu meio de transporte diário para chegar até seu trabalho concursado como auxiliar administrativo de uma escola, que é sua única segurança no meio de tantas incertezas.
O carro está parado na garagem. O equipamento de som guardado. “Já estava difícil, pois hoje em dia as pessoas colocam um streaming pra tocar na festa e dispensam o Dj. Agora, ficou ainda mais complicado”, conta ele, que por ser da Educação e já ter 48 anos, já foi imunizado.
“Perdi cinco colegas, nos últimos quarentas dias, por causa do Covid-19. Vemos muita gente sem trabalho, sem renda, sem expectativa: fotógrafos, músicos, garçons, floriculturas. Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar. Não sabemos quando, mas vai ser uma explosão de comemorações, vai faltar mão-de-obra no mercado pois pra sobreviver a grande maioria já foi pra outras áreas”. E finaliza: “Vamos ter fé e esperança. Não sabemos quando, mas tudo vai passar…” Para conferir o trabalho dele, acesse www.djkunnta.com.br
(Texto: Rosana Bueno Fotos: Arquivo Pessoal)
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