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Prof. Firmino: legado de um professor e vereador negro em Itu

Na semana em que se celebra o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial (21 de março), a cidade de Itu foi palco de uma importante homenagem para destacar o legado de um professor e vereador negro que ficou marcado na história: o professor Firmino Octavio do Espírito Santo Junior, que dá nome a uma EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) no Jardim Novo Itu.

Na última terça-feira (18), a PUC-Campinas, por meio do Centro de Estudos Africanos e Afro-brasileiros Dra. Nicéa Quintino Amauro (CEAAB), realizou uma homenagem a Firmino, que contou com a presença de diversas autoridades municipais, como a vice-prefeita Juliana Passos Pessanha (Republicanos), e também do reitor da instituição de ensino, Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior.

O dia 21 de março foi instituído como Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial pela Lei Nº 11.645. A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou, em 1966, a data em memória ao massacre de Sharpeville, em Johanesburgo, na África do Sul, em 1960.

“O professor Firmino foi aluno da nossa universidade lá na origem, quando ela ainda era a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, fundada em 1941. Ele se destacou como educador, pela capacidade enorme de transmitir conhecimento e formar crianças e jovens. Além disso, sua formação não se encerrou nos muros da escola, ela foi além. Ele foi vereador por quatro mandatos consecutivos e levou para a esfera política seu compromisso com a educação e a justiça social. Não estamos somente prestando uma justa homenagem, estamos provocando reflexões necessárias sobre a população negra brasileira. É possível que todas essas crianças olhem para o patrono dessa escola e o tenham como um exemplo a ser seguido”, comentou o reitor.

“É uma figura muito importante para nós ituanos. Ele trouxe muita representatividade para os afrodescendentes, representou a nossa cidade em muitas causas importantes e foi o professor de História do meu pai, o prefeito Herculano Passos, que tem um grande carinho por ele. Temos muito orgulho pela história que ele construiu por nós”, afirmou a vice-prefeita Juliana.

Para a Comendadora Edna Almeida Lourenço, foi um evento marcante, que reforça a luta contra o racismo. “A gente tem que sempre ressignificar o nosso povo negro, a nossa luta para que as pessoas saibam dos feitos do nosso povo. Quando você tem também a manifestação das crianças é magnífico. Foi de uma simbologia ímpar para Itu e para o movimento negro da cidade”, afirmou.

Quem foi Firmino?

O professor homenageado esteve na Câmara Municipal por quatro mandatos, quando a Casa de Leis recebeu a intervenção militar, durante o período da ditadura. Ele atuou como vereador entre os anos de 1964 a 1976 – e foi 2º Secretário na Mesa Diretora (1975 e 1976). Firmino foi professor de Matemática de Selma Regina Dias, representante do Grupo de Confluência, na Escola Estadual “Prof. Cícero Siqueira Campos”, no início da década de 1970. Hoje, ela é formada em Eventos pela Fatec e possui pós-graduação em Direitos Humanos e Lutas Sociais pela UNIFESP.

Selma, Rosalia e a vice-prefeita Juliana durante a homenagem a Firmino (Foto: André Roedel)

“Eu me lembro muito do professor Firmino, uma figura muito forte, muito empoderada, que sempre nos incentivou muito a estudar. Ele corrigia a nossa postura, o nosso uniforme, a maneira de sair e entrar da sala, a convivência com as pessoas e sempre, sempre incentivando principalmente nós, negros, a estudar. Uma coisa que eu aprendi é que a única coisa que ninguém tira de nós é o estudo”, comenta Selma, que é voluntária no setor cultural da UNEI (União Negra Ituana).

Segundo ela, muitos alunos da escola que leva o nome do professor nem imaginavam que ele fosse negro. “Como sempre acontece com os autores negros, existe um grande apagamento. Então foi um reconhecimento desse legado que o professor Firmino deixou para a nossa cidade, muito importante”, prossegue Selma, afirmando que Firmino foi “audacioso” e “além do seu tempo”. A Profa. Dra. Rosalia Maria Rodrigues de Campos também esteve na homenagem representando a UNEI. “Meu tio Sabará diz que ele batia nas portas das famílias negras e entregava cadernos com lições para que aqueles que não podiam ir pra escola pudessem aprender”, conta ela.

“Estamos dando visibilidade a uma personalidade ituana que entrou para a história. É uma honra gigantesca poder prestar essa homenagem ao professor, estarmos aqui, já que nossos passos vêm de longe e nós devemos isso a ele”, disse Rosalia durante a homenagem.

Os alunos da EMEF “Firmino” apresentaram uma música em homenagem ao professor ao fim da cerimônia da PUC-Campinas. A canção foi composta pelos próprios estudantes, com auxílio da professora adjunta Thais Gouveia Miguel. A coordenadora Lucélia Rodrigues Rocco explica que eles ouviram pessoas que tiveram contato com o professor para formular a letra da música.

A música conta com um ritmo animado, fugindo do estilo dos hinos escolares. “Tinha que ser um ritmo que as crianças gostem e que anime as pessoas, porque o professor Firmino, pelo que a gente viu, era, além de um professor que cobrava, bem animado”, afirma a coordenadora. Os ensaios foram diários. “Foram duas semanas de ensaio. Eles [alunos] amaram o ritmo, a canção, a letra. Tanto que eles estavam com a letra na mão, mas já sabiam de cor”, conta Thais.

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