Por Éden Santos*
O mercado é nos dias atuais o imperador da economia de todos os países, com exceção da Coreia do Norte, cujo ditador Kim Jong-un o mantém hermeticamente fechado. Mesmo três outros países comunistas, China e Vietnã em escala quase total, e Cuba que lentamente vem dando passos numa direção liberalizante, estão dentro desse contexto. Com efeito, nesse ambiente o Trabalho é de fundamental importância como gerador de riquezas.
Em Gênesis, capítulo 3, versículo 19, da Bíblia Sagrada, temos a primeira referência religiosa e histórica ao trabalho. Daquela ocorrência podemos tirar duas interpretações distintas. Na primeira, a de que Deus castiga Adão por sua desobediência ao comer do fruto proibido; a segunda, quando por determinação do Senhor, Adão passaria a ter que trabalhar para, com o suor do seu rosto, suprir as necessidades básicas de sobrevivência, bem como as de sua mulher, Eva. Portanto, ambas as decisões do Senhor, por partir de quem partiu, são sagradas e têm caráter de lei, passando, pois, a ser uma indissolúvel obrigação do homem: não pecar e trabalhar. Atinemos para a última e discorramos sobre a questão teórica do trabalho. É bastante aceita a tese de que o Trabalho tem uma relevância importante no crescimento físico, intelectual e moral do homem e, por consequência, da humanidade.
O não trabalhar definha esses três alicerces fundamentais do ser humano. Acontece que se o homem, tem no Trabalho o elemento essencial para sua sustentação, moralmente falando ele tem o direito ao Trabalho. Por outro lado, alguns especialistas entendem que esse fato obrigaria o Estado a propiciar as oportunidades necessárias para que o homem tenha trabalho. Outros, porém, defendem, com razão, que direito de trabalho não é o mesmo que direito ao trabalho. Além da questão semântica do “de” e do “ao”ser contraditória,ela éprimordial para uma apreciação proveitosa e um melhor entendimento para aprofundarmo-nos neste texto.
Historicamente falando, durante séculos era considerado trabalho só o executado manualmente. Até a idade medieval trabalho era aquele que demandava fadiga, esforço. Em resumo, o custo humano do trabalho. Até essa época, ainda por influência do histórico bíblico o trabalho manual diferenciava-se do trabalho intelectual. A propósito vale lembrar que Giordano Bruno, filósofo e teólogo italiano (1548-1600) asseverou que: “A providência dispõe que o homem ‘se ocupe na ação das mãos e na contemplação do intelecto, de tal maneira que não contemple sem ação e não obre sem contemplação’. Sem dúvida uma simbiose preciosa para a valorização de ambas atividades. Mas foi a partir do século XV, sobretudo com Galileu, astrônomo italiano (1564-1642) que foi percebida, nas atividades manuais dos artesãos, a relevância para a pesquisa científica. Entretanto, célebres cientistas do Renascimento, com honrosas exceções, não compartilhavam dessas ideias. Com o Iluminismo, no século XVIII, o Trabalho começou a ter conceitos mais adequados de respeitabilidade e dignidade. Com o advento do Romantismo nomes como Fichte, filósofo alemão (1762-1814), Hegel filósofo alemão (1770-1831) e Adam Smith, economista britânico (1723-1790) começaram a traçar um perfil do Trabalho como nós o conhecemos hoje. Tornou-se evidente, através de suas teses a importância da relação do homem com o mundo ao seu redor.O homem, ao contrário dos outros animais, tem no resultado do seu trabalho a característica de não consumir imediatamente sua produção. Ao Trabalho, agrega um valor econômico. Emergiram com essas importantes figuras, conceitos indisfarçáveis do caráter insubstituível do trabalho. Só o bárbaro é preguiçoso e ocioso. Seu contraponto é o homem civilizado. O homem passa a ter um conceito voltado para preocupações sociais. Produz, não por produzir apenas para si mesmo, mas também para seu semelhante. Manifestam-se, então, a partir daí, as concepções materialistas de Marx, personagem marcante que, a seu modo, interpreta o trabalho sob o ponto de vista filosófico, sociológico e econômico.
Resumidamente, em seus vastos e fecundos estudos entre tantos outros temas, Marx faz crítica sobre o trabalho que os homens são levados a exercer, bem como sobre determinadas relações tidas como necessárias, porém independentes de sua vontade. Daí o erro que o trabalhador é o único agente de produção, ignorando o capital como fator produtivo.
* É escritor. Site: www.edensantos.com. E-mail: edensantos@uol.com.br.
O post O Sagrado Direito ao Trabalho (I) apareceu primeiro em .