
No último dia 15 de março, completou-se 40 anos da redemocratização do Brasil. É o mais longo período democrático ininterrupto da história do país desde a proclamação da República, em 1889. Embora fruto de um longo processo para pôr fim a 21 anos de ditadura civil-militar (1964-1985), a redemocratização ficou marcada pela posse de José Sarney na Presidência da República, em 15 de março de 1985. Sarney era vice do presidente eleito Tancredo Neves, que morreu.
Diante da data histórica, o Periscópio conversou com duas pessoas que vivenciaram o período para recordar qual foi a participação de Itu no período da redemocratização e como foram os primeiros da mesma no município.
O historiador e professor Luis Roberto de Francisco recorda. “A eleição de Tancredo Neves parece ter sido um alívio nacional também em Itu, mesmo dado o conservadorismo local, potencializado pela presença de um quartel na cidade. Tancredo era um homem de direita e católico. A sua morte, tão explorada pela mídia, abateu a nossa esperança. Eu tinha 14 anos, estava iniciando o Ensino Médio e tive o prazer de ter, na formação, disciplinas como História, Geografia, Sociologia e Filosofia que voltaram ao currículo depois de anos de obscurantismo na educação brasileira”.
“Naquele ano de 1985 também foi reorganizado o Grêmio Estudantil na escola. Os anos finais do governo de Figueiredo já revelavam a decadência da ditadura também aqui. Os sindicatos locais organizavam mobilizações: pichações com frases como ‘greve geral derruba general’ eram pintadas perto das fábricas São Luís e São Pedro, mesmo que a primeira já estivesse desativada”, recorda o historiador.
“Lembro-me que o bairro ‘31 de Março’, como fora batizado o antigo ‘Bairro da Estação’, durante a ditadura, passou a ser chamado ‘da Liberdade’. A Profª. Mara Camargo se filiou ao PT e teve muita representatividade diante dos jovens, pela sua influência positiva junto aos alunos na Escola Prof. Antonio Berreta, única de Ensino Médio público na cidade”, prossegue o educador.
“A vinda de Luís Carlos Prestes para inaugurar a Escola Estadual Olga Benário foi outro episódio que marcou a minha memória de tempos de liberdade naqueles anos finais da década de 1980. De maneira geral, o entusiasmo nacional também se refletiu em Itu, na minha geração. Achávamos que éramos o país do futuro, que o Brasil caminhava para uma renovação extraordinária, sem perceber que era somente uma propaganda ilusória que trouxe Fernando Collor, fruto também de influência da mídia”, opina Luis Roberto, que acrescenta. “Os grupos políticos dominantes em Itu trocaram de camisa, mas continuaram os mesmos”.
Segundo ele, a reabertura do Museu Republicano, em 1986, proporcionou alguns eventos de discussão política fora do processo eleitoral e partidário, que culminaram em um congresso, em 1989, centenário da República, com professores da USP. “Mesmo assim, gente perseguida pela ditadura, como o advogado Ermelindo Maffei, praticamente não falavam mais de política em público… herança do medo implantado naquelas duas décadas lamentáveis da ditadura”, completa o professor.
Ex-deputada estadual e ex-vereadora, Maria do Carmo Piunti também recordou sobre o período o JP, destacando que Itu teve uma participação muito importante no processo de redemocratização. “Através do PMDB, nosso partido à época, e engajados com muitas lideranças políticas, como Franco Montoro, fizemos questão de lutar pelas ‘DIRETAS JÁ’. No dia 25 de janeiro de 1984, sob o comando do prefeito Lázaro Piunti, acompanhado de diversos vereadores, Itu se fez presente no memorável Comício da Praça da Sé [em São Paulo], com dez ônibus de cidadãos ituanos”.
Dias depois, em 2 de fevereiro, dia do aniversário de Itu, Montoro esteve na cidade para a inauguração de diversas obras. “Por volta de meio-dia, tivemos uma maravilhosa concentração na Praça Padre Miguel, com o comparecimento de mais ou menos 8 mil pessoas. Itu seguindo a sua tradição histórica de participação, conhecida como Berço da República, não se furtou a dar sua contribuição nesse momento importante do nosso Brasil”, destaca Maria do Carmo.
Sobre os dias que se seguiram a redemocratização, a ex-parlamentar explica que “inicialmente não houve muita alteração, mas em 1986, o Piunti conseguiu uma audiência com o Sarney levando a recém-criada APRECESP (Associação das Cidades Estâncias do Estado São Paulo) [à Brasília]”, recorda a então primeira-dama, vereadora e presidente da Câmara Municipal.
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