Recordo-me de um outro dia, no qual ela foi até o trabalho dele comigo e, em seus abraços, recebi seus afagos. Até, aí tudo bem. A polêmica começa quando minha memória desaparece.
Não sou melhor nem pior que qualquer outra pessoa. Apenas tenho essa caminhada. Sinceramente, não acredito em Deus, e essa é a minha primeira razão por ser tão descrente. Eu era um bebê, um anjo de “Deus”. Como ela pode fazer isso comigo? Essa pergunta nunca será respondida.
Minha mãe me incentivou ao ato sexual com minhas irmãs. Somos cinco no total. Muitas coisas se apagaram e eu prefiro não lembrá-las. Por aqui você saberá apenas o que restou na minha memória. Uma irmã violentada, eu agredida fisicamente e o sexo vulgar em todos esses anos.
Recordo-me do dia em que apanhei tanto do “marido” de minha mãe de sangue, que os vizinhos e vizinhas vieram ao meu socorro. Eu, sentada embaixo da mangueira, sangrando em todo o rosto, pelo soco que ele havia me dado, por defender minha irmã mais velha.
Temos feridas distantes, nunca cicatrizadas.
Tenho uma família maravilhosa que me adotou há cerca de 36 anos. Nela minhas filhas são netas, sobrinhas, primas e têm tudo de bom que uma família pode dar com seus defeitos “normais”.
São de outros abusos infantis: estupro, assédio e violência de todo tipo.
Do início até aqui eu chorei horrores, pois é como se a morte, que te leva aos poucos, ou como a vida, que te faz respirar.
Nós mulheres precisamos ser donas dos nossos destinos. Não podemos deixar que os homens escolham por nós e nos machuquem com feridas que jamais se cicatrizarão.
O post “GUEST POST: FERIDAS NUNCA CICATRIZADAS” foi publicado em 18th February 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva