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Espaço Acadil: O sofrimento humano e a existência de Deus

Salathiel W. de Souza
Cadeira nº 27 I Patrono Dom Gabriel Paulino Bueno Couto

Entre tantos temas interessantes, resolvi tratar do sofrimento humano no meu trabalho de conclusão do curso de Teologia. Mas não está suficientemente claro que sofrer faz parte da vida e acompanha todos os seres viventes?

Não são poucas as pessoas que se alienam propositalmente desta verdade de que sofrer é intrínseco ao viver. O ser humano tem se especializado em contornar tudo aquilo que o incomoda, inclusive a reflexão sobre quais motivos o levaram a sofrer realmente e qual o verdadeiro caminho para suportar as dores da nossa existência.

Precisamos falar do sofrimento porque muitos se iludem tentando evitá-lo a qualquer custo. Na modernidade vende-se uma falsa ideia de que é possível ser feliz o tempo todo, de que sofrer possa ser opcional, de que através de alguns produtos e procedimentos o ser humano seria capaz de eliminar para sempre qualquer tipo de sofrer.

Evitar o sofrimento é impossível. Quem tem medo de sofrer já sofre simplesmente por esse motivo. Tapar o sol com a peneira, como se diz popularmente, não é, portanto, a solução para os nossos males. Resta aos seres humanos a alternativa realista de encarar o problema. Não há opção melhor para experimentar o mistério do sofrimento do que mergulhar nele à luz da fé em Jesus Cristo…

Trata-se de uma alternativa claramente dolorosa, mas frutuosa. O grande segredo para superarmos o nosso sofrimento particular é sermos solidários com os outros, do mesmo modo que Deus se faz solidário conosco, para então nos lançarmos corajosamente ao serviço de outros tantos irmãos e irmãs que sofrem. À medida que deixamos nosso sofrimento de lado e ajudamos a aliviar as dores do nosso próximo,encontramos juntos um consolo divino que nos alegra e vivifica.

Entre tantos modelos de seguimento a Cristo no sofrimento, escolhemos apresentar duas mulheres da contemporaneidade. Uma delas já é reconhecida e aclamada no mundo todo. Trata-se de Santa Teresa de Calcutá, uma mulher frágil e simples que, com sua determinação em servir os seres humanos que sofrem, iniciou uma das maiores instituições de caridade do mundo, deixando um legado que decerto continuará inspirando homens e mulheres de todo o planeta.

A outra mulher, ainda nem tão conhecida, é Maria de Lourdes Guarda, da Diocese de Jundiaí (SP), Professora acometida de grave enfermidade na juventude, passou décadas atuando num verdadeiro discipulado, mesmo impossibilitada de sair da cama. Do seu leito no Hospital Matarazzo, na capital paulista, acolhia e consolava outras pessoas tão sofredoras quanto ela e foi a propagadora maior, em solo brasileiro, da Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes, um movimento internacional fundado na França.

Já nos idos de mil novecentos e oitenta, Maria de Lourdes clamava pela melhoria das condições de saúde pública, participando até de piquetes e mobilizações às quais fazia questão de comparecer, mesmo tendo de ser levada na maca ao encontro do povo sofredor.

Contemplar o mistério da Paixão sem perder de vista a realidade da Ressurreição deve nos impulsionar. Ao contrário do medo, que nos paralisa e desespera, a alegria que vem do Evangelho e da solidariedade de Deus para conosco precisa nos mover na direção dos tantos incrédulos, infelizes e desesperançados da modernidade.

O mal no mundo continuará atormentando a humanidade, e o tema do sofrimento certamente permanecerá sendo um dos mais inquietantes.

Amém.

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