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Espaço Acadil | O Natal segundo Chesterton

O Natal, para G. K. Chesterton, nunca foi apenas uma data sentimental, mas uma revolução da realidade, um rompimento inesperado na lógica do mundo. O escritor inglês insistia que o Cristianismo é, ao mesmo tempo, a coisa mais humana e a mais surpreendente já oferecida ao coração humano. Em seus ensaios, sobretudo em The Everlasting Man e nas crônicas natalinas reunidas em Generally Speaking, ele descreve o Natal como o momento em que o eterno entra no tempo “como um ladrão da noite”, não para roubar, mas para devolver ao homem aquilo que ele tinha perdido: o assombro.

Chesterton dizia que a grandeza do Natal está justamente no fato de ser pequeno. Deus escolhe não o palácio romano, mas a estrebaria; não os impérios, mas o seio de uma jovem desconhecida de Nazaré; não a imponência, mas a fraqueza de um recém-nascido. Para ele, isso não é mero detalhe poético — é a marca da lógica divina, que desfaz os padrões de poder para restaurar o sentido da humildade. Em The Everlasting Man, Chesterton escreve que “a gruta de Belém é mais profunda que todas as filosofias”, porque ali, naquele espaço reduzido, cabe o infinito. O Natal, portanto, é uma inversão radical: é a pequenez que contém o maior de todos os mistérios.

Outro ponto central no pensamento chestertoniano é que o Natal devolve à criação o seu caráter de maravilha cotidiana. Ele critica a tendência humana de se acostumar com o mundo, de tratá-lo como algo óbvio e sem brilho. Em suas palavras, “o mundo não perece por falta de maravilhas, mas por falta de maravilhamento”. E o Natal é justamente esse sacolejo do céu, esse lembrete de que a existência é um presente. A criança de Belém nos recorda que tudo na vida é dom, graça, surpresa. Celebrar o Natal é recuperar essa visão encantada do real, tão necessária num tempo em que tudo parece utilitário e cansado.

Chesterton também destaca a alegria como marca própria do Natal. Não se trata de uma alegria ingênua, mas da alegria que nasce da vitória da luz sobre a escuridão. Em suas reflexões, ele lembra que a festa cristã não nega a dor, mas a atravessa com esperança. O riso do Natal — presente em suas crônicas cheias de humor — é um riso que reconhece o peso do mundo, mas sabe que o peso maior está nos ombros de Deus, não nos nossos. Por isso, para Chesterton, o Natal é o momento em que a humanidade inteira respira aliviada: o Salvador chegou.

Por fim, Chesterton nos convida a viver o Natal não como uma memória distante, mas como um acontecimento atual. Cristo nasce no tempo, sim, mas quer nascer também no coração. A simplicidade da gruta de Belém continua sendo um espelho para nossos dias: Deus ainda escolhe a pobreza, a humildade, a vida escondida. Ele continua batendo à porta das nossas grutas interiores, esperando que abramos espaço para a Luz.

Padre Salathiel Westphalen de Sousa
Cadeira Nº 27 | Patrono Dom Gabriel Paulino Bueno Couto

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