in

Espaço Acadil | Entre o reborn e o real

Minha amiga Vilma me pediu um texto comentando (ou seria comparando?) a experiência de ter um bebê real versus ter um bebê reborn. Só que ela me pegou num momento delicado: o bebê, fazendo seis meses, no meio dos, agora tão falados saltos de desenvolvimento, fazia-me – confesso – desejar um bebê reborn. Mas como promessa é dívida, fiquei pensando no tal texto. Inevitavelmente, acabei fazendo um comparativo, até involuntário, enquanto pensava como abordar tal tema a princípio tão controverso na minha mente em um texto publicável. 

Foi aí que fiz uma tabela na minha mente: em uma coluna, a palavra “Reborn”; na outra, “bebê de verdade”. Pensei em alguns quesitos pra atribuir notas. O primeiro quesito foi dormir. Um bebê reborn dorme no berço o tempo que você, dono da boneca, quiser que ele durma. O bebê real não dorme no berço. Na verdade, dorme muito – mas só no colo.

O segundo quesito: alimentação. Um bebê reborn só toma a mamadeira na hora em que está sendo usado na brincadeira. Meu bebê está sendo amamentado numa frequência de mais ou menos uma hora e meia, não usa mamadeira e mama inclusive de madrugada.

O terceiro quesito foi a consequência inevitável de tantos “tetezinhos”, o cocô. Um bebê reborn, se precisar trocar a fralda, estará limpinha – a troca é só parte da brincadeira. Meu bebê faz uns cocôs amarelos e explosivos, que sobem pelas costas e mancham as roupinhas. Graças a Deus, não têm cheiro ruim (ainda), mas, como quem tem que limpar sou eu, não é assim tão divertido.

Até agora, o cálculo do placar estava dando três pontos para o bebê reborn, zero ponto para o bebê de verdade. Exatamente como eu me sentia por aqueles dias, uma lavada pro bebê reborn.

Aí, enquanto eu escrevia este texto, o bebê, que estava milagrosamente fazendo uma soneca no carrinho, acordou da sua power nap – aquela soneca digna de coach de internet: cinco a dez minutos, no máximo, mas super reparadora. Sei que foi reparadora porque ele acordou “ligadão no 220”.

Acordou e chorou. Uma boneca reborn jamais choraria escandalosamente alto no carrinho enquanto eu escrevo, pensei.

Ele me viu e parou de chorar: vale uns cinco pontos? Soltou um suspiro de alívio quando percebeu meus braços abertos para carregá-lo: vale uns quinze pontos? Quando, enfim, com ele no colo, abriu um sorriso (sabe aquele de bebê, sem nenhum dente) imenso: vale certamente uns oitenta pontos.

E então, enquanto eu amamentava, a realidade me bateu – delicada, mas violentamente: eu poderia até desejar a tranquilidade de um bebê reborn. Mas com ele eu jamais teria me tornado o universo de alguém. O que faz o placar pender uns mil pontos pro lado do meu bebê de verdade.

Ah, o placar acabou ficando assim: Bebê reborn = 3 pontos. Meu bebê real = 1100 pontos. Pra que lado foi a lavada, mesmo?

Denise Licia Boni de Oliveira Gasparini
Cadeira Nº 3 I Patrono: Francisco Nardy Filho

O post Espaço Acadil | Entre o reborn e o real apareceu primeiro em Jornal Periscópio | Jornal do Povo.

Comédia “Devia Ter Ouvido a Minha Mulher” chega ao Teatro Yara

TV Q. C. Lê! Saúde