
Drama, 2024 | Direção: Marianna Brennand | Classificação indicativa: 16 anos | Duração: 1h41 | Em cartaz nos cinemas da capital
Com “Manas”, a diretora Marianna Brennand faz sua estreia em longas-metragens com uma obra que é, ao mesmo tempo, um soco no estômago e um gesto de resistência. Ambientado na Ilha de Marajó, no Pará, o filme expõe, sem filtros, o ciclo de abusos e violências que atravessa gerações de mulheres na periferia amazônica.
A trama acompanha Marcielle (Jamilli Correa), uma menina de apenas 13 anos que, após a partida da irmã mais velha, começa a enxergar com mais clareza a engrenagem cruel que aprisiona sua família e as mulheres de sua comunidade. Entre a dor da perda, a preocupação com a irmã mais nova e a certeza de um futuro limitado, ela decide enfrentar o sistema opressor que a cerca.
O mérito de “Manas” está na forma como equilibra a dureza do tema com uma abordagem sensível, evitando cair no sensacionalismo. Brennand conduz a narrativa com olhar atento, construindo uma atmosfera realista que mergulha o espectador no cotidiano de Marcielle – um cotidiano marcado por silêncios incômodos, olhares pesados e gestos contidos.
A atuação de Jamilli Correa é um dos grandes trunfos do filme: intensa, mas contida, transmitindo uma maturidade precoce que traduz a força e a vulnerabilidade da personagem. Rômulo Braga e Fátima Macedo compõem com autenticidade o núcleo familiar, enquanto Dira Paes, em participação breve, deixa sua marca com a naturalidade e a potência de sempre.
Pesado e delicado na mesma medida, “Manas” não é um filme fácil – e nem pretende ser. Ao abordar o abuso e a exploração sexual infantil no contexto amazônico, a obra rompe o silêncio sobre um problema muitas vezes invisibilizado, justamente por ser desconfortável.
É um cinema brasileiro corajoso, necessário e de alta qualidade, que não apenas denuncia, mas também homenageia a resiliência das mulheres que resistem, mesmo quando tudo ao redor conspira contra.
Nota: ★★★★
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