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As eleições de 2020 no interior de São Paulo

Quando a gente pensa no que serão estas eleições municipais de 2020 em termos de grandeza, de conquista de espaço popular e representatividade, não há como não voltar nossos olhos para o glorioso passado republicanista, que nos ensejou essa possibilidade mágica de escolher nossos representantes e que começou em Itu.

Quando no dia 18 de abril de 1873 foi realizada aquela reunião em Itu, na casa de Carlos Vasconcellos de Almeida Prado, que ficou conhecida como a Primeira Convenção Republicana, não se imaginava nem de longe que a República brasileira ali gestada tornaria-se a quinta maior democracia do mundo em número de eleitores.

Não duvido que o primeiro presidente da República que o interior do estado de São Paulo deu ao nosso país (foram 5 no total), o ituano Prudente de Moraes, patriota como poucos, tivesse antevisto a grandeza e a pujança de nosso vasto interior. Área que hoje é fortemente industrializada e caracteriza-se por sua economia de grande porte e bastante diversificada, sendo uma das regiões mais ricas da América Latina, responsável por cerca de 1/5 do PIB do Brasil — maior mercado consumidor do pais, à frente da Grande São Paulo (capital).

Mas poucos imaginavam que este mesmo interior do estado de São Paulo, composto de cidades como Itu, berço da fundação de nossa liberdade republicana, viria a ter num pleito do século 21 (este nosso contemporâneo 2020), 644 municípios e 22 milhões de eleitores registrados. Sendo que 15 destes municípios são grandes eleitoralmente para ter segundo turno.

Apenas o interior de São Paulo tem hoje uma das 20 maiores democracias diretas do mundo com estes quase 25 milhões de eleitores que estarão aptos a escolher prefeitos e vereadores nesta que será também a maior eleição de nossa história democrática.

A grandiosidade deste nosso aceno à liberdade não fica só nesse número grandiloquente de eleitores. Uma democracia tem medida sua qualidade pela facilidade que se oferece a todo e qualquer cidadão de ter o direito de ser candidato e representar sua comunidade, sua classe e seus simpatizantes em geral.

E, neste campo, a representação política hoje no interior de São Paulo também é gigante. Basta dizer que para o pleito deste ano, teremos aproximadamente 4.000 candidatos a prefeito e mais de 150 mil candidatos a vereador nas cidades que não compõem a capital do estado. Ou seja: por todo o interior paulista, distribuídos por 37 partidos diferentes.

Mas, neste contexto do gigantismo da democracia do interior de São Paulo, o que podemos esperar destas eleições?

Eu sempre digo em minhas palestras que não há eleitor mais “treinado” do que os eleitores do interior, pois, mesmo durante o regime militar, quando não havia a possibilidade do voto direto para presidente e para prefeitos de capitais, no interior a democracia eleitoral era exercida livremente e o voto era praticado a cada 4 anos.

Sempre afirmo também que, ao contrário do que se pensa, partidos e líderes só se consolidam nacionalmente quando conquistam capilaridade representativa no interior, com a eleição de considerável número de prefeitos e vereadores. Foi assim com os grandes partidos da era moderna: Arena, MDB, PDS, PMDB, PFL, PSDB E PT.

Considero que as eleições municipais deste ano não estarão tão polarizadas ideologicamente como as eleições nacionais passadas, pelo fato de que devem preponderar temáticas paroquiais de demandas emergentes do dia a dia, em relação à conceituação ideológica desencadeada pela brutal crise econômica que o país passou nos últimos anos e que deflagaram uma insatisfação coletiva que levou o eleitor aos extremos.

Não estarão polarizadas ideologicamente, mas manterão a rivalidade e a tensão típicas de eleições interioranas impregnadas de tradições políticas e representativas e, principalmente, mergulhadas nas temáticas mais aflitivas do dia a dia do cidadão, como o funcionamento da saúde pública, a capacidade de gestão da zeladoria municipal, a articulação da segurança pública, a qualidade do sistema educacional, os esforços para atração e consolidação de um parque produtivo que ofereça oportunidade de emprego e desenvolvimento da economia local. Enfim, tudo que diz respeito ao contato direto do cidadão com o estado.

Ressalvada a revolta que ainda povoa a mente de brasileiros do interior de São Paulo, indignados com a crise econômica gerada por incompetência e corrupção, e ainda o fenômeno moderno da utilização das redes sociais para agredir e insultar adversários políticos, o fato é que os próprios discretos avanços recentes da economia já criarão um clima de mais harmonização que pode transformar as eleições deste ano numa grande festa democrática em todo o interior de São Paulo.

 

 

Sobre João Miras:

João Miras é um publicitário ítalo-brasileiro de 56 anos, que já trabalhou em dezenas de cidades, 13 estados brasileiros e em outros 4 países. Realizou mais de 170 trabalhos em 40 anos de profissão. Notabilizou-se na publicidade governamental e eleitoral atuando para agências, produtoras, institutos de pesquisa, partidos e empresas.

Estrategista de marketing político é reconhecido como um dos maiores public brand makers do Brasil por ter se especializado em planejamento estratégico de comunicação para governos e prefeituras com foco na construção de marcas de governança,

Autor de 2 livros, orientador acadêmico, influenciador digital (20.000 seguidores no Twitter e Facebook) e palestrante com mais de 300 conferências – como as realizadas para a Fundação alemã de estudos políticos Konrad Adenauer e várias universidades -, é também referência no meio acadêmico como fonte de pesquisa para defesa de teses em várias universidades como PUC e Unicamp, entre outras

O post “As eleições de 2020 no interior de São Paulo” foi publicado em January 17, 2020 e pode ser visto originalmente na fonte Jornal de Itu

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