
Artistas apresentam a peça ‘Entre Quatro Paredes’ na próxima quarta-feira (27). O teatro, de parceria com a Fundec, será apresentado via Youtube da Colméia às 11h. ‘O Inferno São os Outros’, frase clássica e que define a visão filosófica e também sintetiza o texto de Sartre. Na peça ‘Entre Quatro Paredes’, encenada pela primeira vez em 1944, Sartre mostra uma condenação eterna sem enxofre, fogo ou torturas físicas. Aqui, a falta da liberdade, limitada pelos outros, é interpretada como sendo a pena do inferno.
A trama se passa numa sala de visitas, onde três pessoas desconhecidas se encontram. Elas estão mortas e a sala representa o inferno. Não existem espelhos, nem janelas, nem portas. A luz não se apaga, numa reflexão sobre o vazio da vida e a falta de esperança. ‘Entre Quatro Paredes’ traz um inferno onde todo o sofrimento é infligido pelos outros; pela incapacidade que cada um tem de fugir ao olhar e julgamento alheio. A morte é a objetivação final. Não há como mudar a história, nem como adotar novas posturas em relação aos outros e construir um novo sujeito. A vida já foi vivida, decisões tomadas, não há como escapar dos rótulos: o covarde, a assassina ninfomaníaca e a lésbica.
A peça traz quatro personagens: um criado, duas mulheres e um homem. O criado, sóbrio, recebe seus hóspedes — condenados a uma eternidade em companhia um dos outros, mas alegando inocência. Joseph Garcin, desertor, jornalista, falso e cruel com a esposa. Passa mais tempo preocupado com a opinião dos vivos sobre ele do que com as mulheres ao seu redor. Inez Serrano é uma mulher lésbica manipuladora, ex-funcionária dos Correios, sarcástica e irônica. Não admite estar fora do comando da situação e odeia Garcin com a mesma intensidade que deseja Estelle, bela esnobe emergente. Estelle traiu seu marido diversas vezes, matou o próprio filho e não se arrepende.
O inferno de Sartre é uma parábola da vida. Cada personagem vê no outro sua salvação. Mesmo precisando um dos outros, não cedem. Na verdade, cada um tem prazer em desprezar os que mais precisam de ajuda.
A obra dramatúrgica de Jean-Paul Sartre teve grande importância no pós-guerra e continua sendo uma referência nos dias de hoje. No Brasil, na década de 1960, sua obra teve várias montagens principalmente pelo fato de que o conteúdo existencialista do texto encontrava eco no difícil momento político por que passava o país. Em toda a sua obra, o homem sartriano vive situações limites, em que se vê forçado a descobrir sua própria verdade, assim como a natureza de sua relação com tudo que o cerca.
Montagem
Diante do cenário atual de isolamento social imposto pela pandemia do Covid 19, os atores ficaram impedidos de exercer as apresentações teatrais. Sendo assim, a gravação da encenação será feita pelo canal do Youtube da Colméia. A peça foi gravada como se fosse uma live, do começo ao fim sem interrupção. Tal qual uma apresentação, mas sem público. Os atores ainda usaram o “face shield” – protetor facial acrílico.
Equipe
A adaptação e direção ficaram a cargo de Mario Persico, que também participa da montagem. Entre os atores, Gabriele Clemente interpreta Inês, Michele Sonsin personifica Estelle, Mario Persico é o Criado, e Rafael Moreira participa como o Garcin. (Da Redação)
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O post “Artistas apresentam, de forma virtual, obra sartriana em Sorocaba” foi publicado em January 22, 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Jornal Cruzeiro do Sul