“A solução para a falta de água em Itu é a barragem do Consórcio do Ribeirão Piraí”, diz Malu Ribeiro

Em entrevista ao Jornal de Itu na tarde de quinta-feira, Malu Ribeiro, da Ong SOS Mata Atlântica, especialista em água, falou sobre um assunto que conhece bem: recursos hídricos – ou melhor, a falta deles. Há 22 anos ela estuda o assunto.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: Eu acabei de ler uma entrevista sua, de 2014, em que você diz que estávamos vivendo a pior crise hídrica dos últimos 80 anos. Sete anos depois, estamos falando sobre a pior crise hídrica dos últimos 100 anos…

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Desde 2014, não choveu o suficiente para os mananciais se recuperarem. Na verdade, nós nunca saímos da crise hídrica, as reservas não tiveram descanso. E além disso, a demanda cresceu em até oito vezes na região.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: Qual foi o nosso maior erro nesses sete anos?

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Termos abandonado o Piraí.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: O consórcio ou o Ribeirão?

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Os dois. A solução para a escassez de recursos hídricos, não só para Itu, mas para as outras cidades, é o Consórcio Intermunicipal do Ribeirão do Pirai.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: Muitos ambientalistas são contra esta obra

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: E eles estão certos. É preciso que se faça a obra mas que se tenha contrapartidas, senão teremos problemas. Temos que restaurar as cabeceiras do Pirai, entre outras ações. É preciso que essa seja uma solução social e ambiental para a região, pois vai impactar todo o ecossistema, e sem floresta não tem água.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: Muitos políticos estão usando sua fala, em uma reportagem para um portal da região nesta semana, para justificarem a crise hídrica na cidade.

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: É preciso fazer mais políticas públicas para a água e menos política com a água. É importante lembrar também que não são só prefeito e vereadores que devem ser cobrados, nós temos deputados. Eles também precisam fazer algo nesse sentido, buscar ajuda, pensar em estratégias. Nesta quarta-feira (25) foi aprovada uma lei federal que permite maior ocupação do entorno de rios em áreas urbanas, as áreas de preservação permanente (APP), isso é prejudicial. Estamos falando de arranjos políticos e econômicos, que devem aumentar com novo marco regulatório de saneamento e os lotes de concessões.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: O que é preciso fazer?

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Em Itu, houve algumas ações, mas não foram suficientes, como podemos ver. É preciso investir em controle de perdas. Nós temos algumas regiões preservadas em Itu, na Estrada Parque, por exemplo, mas elas foram pensadas muitos mais em atributo de paisagem do que de preservação. É preciso proteger as nossas bacias hidrográficas: Braiaiá, Itaim, mesmo elas sendo pequenas. O próprio Piraí. A água do Rio Tietê, por exemplo, poderia ser tratada para ser utilizada para fins menos nobres. É preciso também viabilizar a água de reuso. Além disso, há os rios poluídos, o desmatamento, as queimadas…

Enfim, as soluções para gestão da água precisam ser integradas : maior reservação, proteção de mananciais, restauração florestal para recarga de aquíferos e nascentes, tecnologia e governança.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: E temos uma estação de esgoto do Pirajibu que não funciona, e a população nem sequer foi informada disso.

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Esgoto sem tratamento significa mais rio poluído e menos água. É preciso cobrar preventivamente. A população se ilude, como quando foi garantido abastecimento. Não dá para garantir isso.

Jornal de Itu – Jornalista Rosana Bueno: E há esperança?

Malu Ribeiro – SOS Mata Atlântica: Sim, eu sou uma otimista, apesar de tudo. Nós temos conhecimento científico e uma comunidade participativa, quando há espaço para isso. É preciso olhar para a frente…

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