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A QUESTÃO NÃO É SE BOLSO DARÁ GOLPE, MAS QUANDO

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Que Bolso planeja dar um golpe de Estado, não há a menor dúvida. Ele já avisou isso dezenas de vezes. E não há nenhuma reação das instituições, o que é assustador. Pior é que, quando ocorrer o golpe, nossa reação será dizer “alguém está surpreso?” e “eu avisei”. Será pouco.

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Se antes a dúvida era se o golpe anunciado do genocida teria ou não o apoio das Forças Armadas, nos últimos dias ficou claro que elas estarão com ele, e que pertencem a ele, não ao país . Celso Rocha de Barros escreveu na Folha que, numa das bravatas semanais mais recentes de Bolso (em que ele disse que, se não houver voto impresso, não haverá eleição em 2022), “todas as outras instituições da República deveriam ter publicado uma nota conjunta dizendo: ‘Jair, se der golpe, vai morrer. Abs. Não publicaram”. 

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Para Barros, as Forças Armadas estão passando o recado que elas farão de tudo para proteger seus corruptos. Lá a impunidade está garantida. Não é à toa que o processo administrativo que negou qualquer tipo de punição ao ex-sinistro general Pazuello terá sigilo de cem anos . Pô, um século de sigilo! Quase tanto tempo quanto deram pro véio da Havan pagar suas dívidas! Barros termina dizendo: “Não se iluda. Se houver golpe, vai ser pra roubar”. Mas acho que a questão não é mais se haverá golpe, e sim quando e como. 

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E dane-se que a maioria da população seja contra militares fazerem parte dos governos. Agora é tarde. Já temos, desde o início de 2019, o governo mais militar da história. Segundo pesquisa Datafolha, 58% dos entrevistados acham que militares não devem ter cargos nos governos. 62%, que milicos não devem participar de manifestações políticas. Mas quem liga pra opinião do povo?

Reproduzo aqui a segunda metade do artigo do professor e pesquisador da UFMG Camilo Aggio na Carta Capital , que fala exatamente do que estamos passando:

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São duas as lições que se deve extrair do atual momento. A primeira: as Forças Armadas já deram todos os sinais que estão mais alinhadas do que desalinhadas com Bolsonaro. Ele não é apenas um instrumento de um projeto de poder dos militares, mas um sujeito que organiza e sintetiza uma visão de mundo. O alinhamento não se deve apenas aos ganhos, benefícios e privilégios dessas corporações (que o digam os mais de 6 mil cargos ocupados por militares no governo) mas por afinidade ideológica. Sem o empenho do autoritarismo militar, Jair Bolsonaro dificilmente teria sido eleito.

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A segunda. É um erro achar que um golpe militar tocado pelo bolsonarismo viria de um desrespeito aos pilares constitucionais das Forças Armadas pelas baixas patentes: a disciplina e a hierarquia. Em outras palavras, da insubordinação das baixas patentes. Conversa. Revejam os fatos: o golpe planejado por Jair Bolsonaro não é um projeto de insuflação das baixas patentes contra os superiores hierárquicos, mas um plano gestado pelo Alto Comando das Forças Armadas. Até aqui, tudo o que vimos em termos de ameaças golpistas explícitas derivam das altas patentes.

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Somem a isso o papel das polícias. Os motins de policiais militares aconteceram, até aqui, basicamente regidos por um espírito corporativista: reivindicações sobre salários e benefícios. O que temos, agora, é uma ideologia unificadora. Um projeto e visão de mundo que coloca o autoritarismo como panaceia.

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Como já escrevi aqui, o golpe militar que chamamos, nessa versão, de golpe bolsonarista, já está em curso.  E qual é a saída? Eu acho que não tem. O desvelamento do golpe se dará, no mínimo, até 2022. É difícil imaginar que alguma instituição e autoridade tenha a mesma cara-de-pau de 2018 para arrancar Lula da disputa presidencial de 2022 – ou tentar dar um nó na democracia, como propôs Eliane Cantanhêde [em sua coluna no Estadão, a jornalista tucana sugeriu que Lula poderia dar um “golpe de mestre” se o candidato que pode ganhar no primeiro turno, segundo as pesquisas, fosse vice numa chapa progressista]. Por outro lado, Jair Bolsonaro e as Forças Armadas não aceitarão uma derrota para Lula, mesmo o petista tendo empresários, partidos de quase todo o espectro-político ideológico do seu lado.

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Como disse Eduardo Bolsonaro em 27 de Maio de 2020, a questão não é mais “se” terá ruptura, mas “quando”. E ele estava certo. Errado, como sempre, estavam e estão os que acham que isso é blefe. Há gente que fica se perguntando “Mas, e depois? O que os militares vão fazer? Vão meter tanque na rua, fechar Congresso, Supremo…?”. Acho que sim. Vai ser mais ou menos por aí. Sobre o que farão depois, pergunto:  eles lá sabiam e tinham planejado o que fariam depois do Golpe de 1964? Foi puxadinho autoritário atrás de puxadinho autoritário até a década de 1980.

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O que vivemos e viveremos é tão e somente fruto da “brincadeirinha” que o Brasil resolveu fazer com a democracia em 2016. O custo é alto. Termino essa coluna que virou textão aderindo à futurologia de Marcia Tiburi no Twitter , porque acho que ela tem toda razão: “Vai acontecer um golpe militar e ele será uma caricatura de 1964, assim como Bolsonaro será um ditador caricatural. O golpe vai ser ainda mais grotesco do que todos os que já vimos e vamos ficar ainda mais estarrecidos do que estamos hoje”.

O post “A QUESTÃO NÃO É SE BOLSO DARÁ GOLPE, MAS QUANDO” foi publicado em 12th July 2021 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva

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