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TODA MULHER TEM UMA HISTÓRIA DE “PINTOU UM CLIMA” PRA CONTAR

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“Parei uma moto numa esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas, 3, 4, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas no sábado numa comunidade. E vi que elas eram parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas, e eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando sábado, pra quê?! Ganhar a vida!”

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Foi com essas palavras que Bolsonaro escandalizou o país na sexta numa live. Ele já tinha contado essa história — mentirosa, as meninas não eram prostitutas, estavam numa ação social aprendendo maquiagem — no mínimo outras duas vezes, sem o “pintou um clima”. Michelle inventou que ele sempre diz isso, sem conotação sexual, o que não é verdade (há mais registros d’ele mentindo sobre as meninas do que falando “pintou um clima”). 

Ele já mudou a narrativa várias vezes. Seu gabinete do ódio está fazendo qualquer coisa pra tirar o foco. Sua campanha está ameaçando de processo qualquer um que insista em se horrorizar com o presidente (por quê? Estamos inventando alguma coisa? Ele não sexualizou e expôs meninas de 14, 15 anos e afirmou que “pintou um clima” com elas?). 

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O tema é sério demais. Não podemos nos calar. Milhões de meninas e mulheres são assediadas e estupradas no Brasil (e no mundo), muitas vezes por homens que acharam que “pintou um clima”. 

Em março de 2008, semanas depois de ter começado este blog, publiquei um post que se chamava “Toda mulher tem uma história de horror pra contar “. Eu tive essa impressão quando fazia mestrado na UFSC. Numa aula só com mulheres, todas nós (de origens e idades muito diferentes), incluindo a professora, percebemos que já tínhamos sido abusadas ou no mínimo escapado de algum estupro. Todas nós! 

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O post de 2008 chamou a atenção. Inúmeras mulheres se identificaram. Nesses quase quinze anos de blog, já publiquei vários relatos de sobreviventes. Então pedi as minhas leitoras no Twitter que compartilhassem suas histórias de horror. Reuni algumas. Deu doze páginas no Word, corpo 11. Vou publicar umas aqui, em 3 ou 4 posts. 

Ao lê-las, pense no quanto este problema é sério e urgente. É uma praga social que afeta praticamente todas nós. Pense no que o presidente fez no seu mandato para atenuar isso. Pense no quanto o presidente ajuda pedófilos ao cortar a verba de políticas para combate à violência contra meninas e mulheres. Pense como alguém pode votar num homem que disse que “pintou um clima” com meninas de 14, 15 anos. E espalhe o post para outras mulheres.

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“Quando eu tinha uns 20 anos fui a um ginecologista que fez o exame de toque em um ritmo parecendo uma masturbação e se colocou entre as minhas pernas para fazer exame nas minhas mamas.” (Juju)

“Quando eu tinha 6 anos meu avô bêbado aproveitou que todos estavam dormindo e me estuprou na minha rede. Aos 11 anos o tio da minha amiga me atacou dentro da casa dela. Para eles, ‘pintou um clima’ pra estuprar uma criança.” (Carol)

“Eu tinha doze anos e um motoqueiro parou do meu lado fingindo perguntar um endereço, quando fui responder ele já tinha colocado o pau para fora e estava se masturbando. Eu corri chorando e ele foi me seguindo, até eu conseguir chegar na minha escola.” (Monica)

“Uma coisa que eu percebi, sofria mais assédio quando era menor de idade do que sofro hoje, homens adultos vinham atrás de mim, me seguiam e gritavam coisas desde os 12 anos, as coisas melhoraram quando fiz 18.” (Manu)

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“Tinha 9 anos, um ‘irmão de igreja’ achou por bem oferecer uma massagem e aproveitar que eu estando petrificada sem saber o que acontecia abusou de mim, meus ‘responsáveis’ estavam orando em outro cômodo da casa.” (Mariana)

“Eu tinha 12 anos e ia para o shopping com um amiga da mesma idade e a minha irmã mais nova. um caminhão passou com 2 homens gritando e buzinando. Lembro que fiquei me olhando e cruzando os braços, olhando pra baixo, queria me esconder… me senti sem roupa naquele dia.” (Marília)

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“Namorado da minha tia veio no meu quarto e achou q ‘pintou um clima’, me chamou de namorada, tentou me beijar. Eu tinha seis anos . Meu pai me ensinou que criança não namora e que se adulto quisesse era pra chamar ele e a polícia. Perguntei: Tio, eu chamo meu pai ou a polícia?” (Ana)

“Tinha dez anos e fui fazer um exame no oftalmo. Ele apagou a luz e mandou eu ler aquelas letrinhas. Pegou a minha mão e colocou dentro da calça dele. Eu fiquei apavorada e não consegui avisar para minha mãe que estava na sala o que estava acontecendo. Só falei em casa.” (Elika)

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“Estuprada aos 5 anos por padrasto, tive uma tentativa de estupro aos 15 anos. Sou surfista e pegava carona pra praia da Barra da Tijuca. Uma vez o cara começou a se masturbar e eu fiquei com muito medo, estava pronta pra me jogar do carro. Comecei a chorar e implorar que me deixasse em paz. Pra minha sorte ele me deixou na praia… momentos de terror. Aos 40 anos no auge da minha dependência química, sofri um estupro de vulnerável. Mas não consegui provar, foi no quarto do porteiro. Saí como ‘louca’ da história, afinal eu era a culpada por estar drogada, não respondia pelos meus atos, mas a dependência química que é uma doença reconhecida pela OMS é vista como ‘vagabundagem’. Fiquei em estado de choque depois do ato, e acabei nunca mais me relacionando com homens (me entendia ser bissexual), e parei de usar drogas.” (Luciana)

“Com uns 17 anos fui fazer uma radiografia da coluna pq estava ficando com escoliose. Depois de colocar o avental, o ‘técnico’ , a título de me ‘ajudar’ a subir na mesa, colocou as mãos nas laterais dos meus seios. Travei os braços e afastei as mãos dele. Fiz o exame chorando.” (TT)

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“Eu tinha 12-13 anos, estava só esperando o ônibus depois da escola, era hora do almoço. Um carro parou em frente a parada e o motorista não desceu, vários minutos depois, qdo eu me aproximei do meio-fio para ver se o ônibus estava chegando, vi o homem se masturbando. Horrível.” (Anne)

“Diretor de um clube q eu frequentava qdo era adolescente achou q ‘pintou um clima’ pq eu era simpática. Foi me entregar ingressos de uma festa e me trancou dentro da sala dele e me encurralou. Dei uma joelhada no saco dele e saí correndo.” (Juliana)

“Uma vez o cara do aluguel foi buscar o dinheiro e eu com dez anos sozinha em casa, sim pq minha mãe tinha q trabalhar e eu era a única em casa nesse horário. Os outros irmãos estavam na escola. Deixei-o esperando na porta e qdo voltei com o dinheiro ele está dentro da casa,  me agarrou e se esfregou em mim. Só não aconteceu o pior pq eu gritei tanto, mas tanto… Q ele terminou fugindo. Lembro que o resto do dia foi horrível, um sentimento de desespero, um trauma q levei p vida adulta. Também já fui assediada em ônibus e eqto ia para o trabalho um homem estava se masturbando no meio do mato e jogou esperma na minha direção. Vcs homens não tem noção do q é ser mulher! Não mesmo!” (Michele)

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“Eu era criança (uns 11 anos) e gostava de andar de bicicleta na chuva. Um carro começou a circular o quarteirão onde eu brincava, andando devagar e me encarando. Voltei pra casa e nunca mais fui brincar de bicicleta na chuva.” (Karol)

“Com 14 anos, um vizinho tocou a campainha pedindo pra que eu abrisse a portaria que ele estava sem chaves. Desci, abri e dei as costas pra subir as escadas quando ele me chamou. Se masturbando, disse ‘eu sei que você quer’. Nunca ‘pintou um clima’ e foi a 1ª vez que vi um pênis.” (Dandara)

“Aos 16 o filho do pastor da igreja que eu frequentava achou que pintou um clima e tentou me agarrar à força. Aos 18 um colega da academia achou que pintou um clima na volta pra casa, ele quis me acompanhar, tentou me beijar, virei o rosto e ele me deu uma mordida.” (Selena)

“‘Pintou um clima’ quando eu tinha 17 anos e um senhor na faixa dos 50 passou a me perseguir no caminho até o ponto de ônibus para ir pra faculdade. Ele convidava pra tomar café, sorvete, etc.  Só parou quando eu contei em casa e o meu pai começou a me levar no ponto de ônibus.” (Giovana)

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“Estava voltando da escola (uns 13/14 anos) e um nojento dentro de um carro me perguntou onde ficava a rua ‘x’. Quando me aproximei, ele estava com o pênis pra fora se masturbando. Cena nojenta que eu nunca esqueci.” (Lisiane)

“Acho q um ‘tio’ deve ter achado q pintou um clima qd abusou de mim aos 6 anos, dentro da casa dos meus pais. O pior: ninguém acredita numa criança! Sempre é ‘ele tava brincando com ela’ ou ‘não tem nada a ver’. O mais dolorido foi ver minha avó defender aquele traste!” (ICS)

“Nunca vou esquecer dos homens que me diziam na infância que eu era bonitinha, que eu ia namorar com eles quando eu crescesse, mandavam beijinho. Eu tinha medo na época. Apesar de gente ao meu redor dizer que era só brincadeira, nunca comprei essa narrativa. Desconfiei até o fim. Talvez essa desconfiança tenha repelido eles. Conforme fui chegando na adolescência, essas ‘brincadeiras’ foram diminuindo até cessar. Eu tenho nojo, ânsia de vômito quando me lembro disso.” (Claudia)

O post “TODA MULHER TEM UMA HISTÓRIA DE “PINTOU UM CLIMA” PRA CONTAR” foi publicado em 19th October 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva

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