Sei que é difícil comparar, mas vamos tentar: Sérgio Moro e Flávio Dino. Ambos ex-juízes que viraram políticos. Ah, e é fake que Dino ficou em primeiro lugar no mesmo concurso pra juiz de Moro (Dino realmente foi primeirão, mas não foi o mesmo concurso).
Sérgio Moro formou-se em Direito em 1995 pela Universidade Estadual de Maringá (PR). Foi juiz federal entre 1996 e 2018. Coordenou a Operação Lava Jato. Condenou Lula em 2017 — o que serviu para impedir que o favorito às eleições de 2018 não pudesse concorrer –, mas sua sentença foi anulada pelo STF em 2021, que decidiu que Moro agiu com parcialidade e declarou sua suspeição. O Intercept publicou mais de cem artigos expondo a ação coordenada entre Moro e o Ministério Público (principalmente Deltan Dallagnol) para condenar Lula.
Hoje é unanimidade internacional que Moro não foi nada imparcial no julgamento de Lula. Uma pesquisa publicada pela Folha de agosto de 2020 mostrou que, entre 283 professores de direito, 97% afirmaram que Moro não agiu com “a imparcialidade exigida para um julgamento justo”.
Mas bem antes disso a mídia do mundo inteiro já ficou surpresa quando Moro, que beneficiou Bolsonaro prendendo Lula, virasse superministro de Bolso. Parecia, como dizer, haver um conflito de interesses. Também foi interessante que, para assumir o cargo de ministro, Moro pediu a Bolso que garantisse a pensão a sua família caso algo lhe acontecesse (o que é absurdo , já que o presidente não tem como garantir isso).
Após uma atuação apagada e passa-panista em relação às acusações de corrupção envolvendo Bolso e a família, Moro deixou o ministério, em abril de 2020.
Foi ser advogado e consultor na iniciativa privada. Em menos de um ano, entre 2020 e 2021, recebeu uma fortuna da consultora americana Alvarez e Marsal, que presta serviços de recuperação judicial e assessoria jurídica. Entre os clientes estão empresas investigadas pela Lava Jato, como Odebretch e OAS. Primeiro Moro entrou como sócio da empresa, depois foi rebaixado a consultor. O Tribunal de Contas da União determinou que Moro dissesse quanto ganhou trabalhando na Alvarez. Depois de muita insistência , ele revelou: R$ 3,6 milhões (fora um bônus de R$ 806 mil pela contratação). Mas ele insiste: “Não enriqueci”. Pra ele, ganhar em um ano a bolada que a enorme maioria dos brasileiros não recebe na vida toda não é enriquecer (fora as palestras).
Hoje seu salário pelo Podemos é de “apenas” 22 mil reais por mês. “É um meio de subsistência”, diz ele. Ele planeja se candidatar a presidente. Se continuar com menos de 10% nas pesquisas até abril, deve optar pela candidatura a deputado federal.
Agora vamos a outro ex-juiz. Flávio Dino formou-se em Direito em 1991 pela Universidade Federal do Maranhão. Foi juiz federal entre 1994 e 2006. Aos 38 anos, pediu exoneração do cargo para poder concorrer a deputado federal pelo PCdoB. Foi o quarto mais votado do Estado. Foi eleito governador do Maranhão em 2014 e reeleito em 2018. Conseguiu acabar com décadas de poder da família Sarney num dos estados mais pobres do país. Agora deve se eleger senador pelo PSB. Espero que um dia se candidate a presidente.
Mas algo que nunca vou esquecer sobre ele foi o que a Manu, sua ex-colega de partido, contou numa palestra que dividi com ela em Porto Alegre. Os amigos criticaram Dino quando souberam que ele deixou de ser juiz pra ser candidato a deputado, em 2006. Como assim? Largar uma carreira tão próspera e disputada pra concorrer a deputado? E ele ele não se elegesse?
Dino, calmo e seguro, sempre respondia: “Eu acho que consigo passar em concurso pra juiz de novo”.
O post “A HISTÓRIA DE DOIS EX-JUÍZES” foi publicado em 11th February 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva