Além das mudanças na isenção de IPVA para pessoas com deficiência, outro assunto vem causando polêmica: a obrigatoriedade de um adesivo identificando os veículos de pessoas que utilizarem a isenção do IPVA.
Entre os contribuintes paulistas com deficiência, ficou a sensação de que a medida é arbitrária e vai gerar a exposição de pessoas que não se sentem confortáveis com tal identificação. Antes do decreto, cada um escolhia se queria, ou não, se identificar.
Alguns alegam que a obrigatoriedade pode causar um problema de segurança, como se o adesivo fosse uma placa dizendo “me assalte, eu não posso reagir”. Outros lembram que, dentro de um carro, a pessoa com deficiência consegue ‘se misturar à multidão’ e não ter absolutamente nada que o diferencie dos demais. Afinal, quando vemos um carro parado no semáforo, por exemplo, não dá para saber se a pessoa que ali está tem deficiência ou não.
Uma das críticas faz dura comparação. Imagine uma pessoa negra que se matricule numa universidade pelo programa de cotas. Ela deveria ser obrigada a usar no material escolar um adesivo “sou negro, por isso estou aqui”?! A ala neutra lembra que muitas das pessoas com deficiência já têm um adesivo de identificação no veículo, pois isso torna mais fácil, por exemplo, o uso das vagas demarcadas de estacionamento.
Vale destacar que o adesivo, por si só, não dá direito à utilização da vaga reservada. É obrigatório o uso do cartão DEFIS, que é pessoal e intransferível. Ou seja: pertence à pessoa e não ao carro. A vaga só pode ser usada se a pessoa com deficiência estiver no carro.
A Secretária Estadual da Pessoa com Deficiência, Célia Leão, deu sua opinião – embora as mudanças na legislação sejam de responsabilidade da Secretaria de Fazenda. Célia ficou paraplégica
aos 19 anos em decorrência de um acidente automotivo. Deputada Estadual pelo PSDB há sete mandados, a Secretária é uma das referências na luta pela inclusão no País.
Sem fugir da polêmica, ela não vê problemas na medida. “Eu mesma já uso um adesivo no meu carro há muitos anos. É um símbolo que todo mundo conhece e facilita a minha vida”. “A isenção de IPVA é um benefício que a pessoa pode escolher se quer ou não, e o adesivo só é obrigatório para quem tiver a isenção de IPVA. Precisamos lembrar que junto com os direitos vêm as obrigações, e esta é apenas mais uma”, emendou.
A Secretária afirma ainda que o governo tem o dever de fiscalizar os benefícios e combater as fraudes. “A utilização do adesivo foi apenas uma escolha do governo para manter este controle”. O assunto já foi debatido entre as pessoas com deficiência quando o senador Jorqe Kajuru enviou ao Senado o Projeto de Lei 4.790/20, que visa disciplinar o uso de adesivos de identificação nos veículos conduzidos por pessoas com mais de 75 anos, pessoas que estão no período probatório da habilitação e pessoas com deficiência.
O Senador argumentou que no caso de pessoas idosas e recém habilitadas o adesivo pode ajudar a manter a paciência e compreensão dos demais motoristas, mas não fez nenhuma referência à questão da pessoa com deficiência. Devemos entender que, pelo fato de ter uma deficiência a pessoa é um motorista menos habilidoso? Isso ainda não foi explicado, mas causou controvérsia.
O fato é que São Paulo saiu na frente e a lei já está valendo. Para muitos, mais uma medida arbitrária imposta à pessoa com deficiência sem que ela participasse da discussão e pudesse opinar sobre como quer (ou não) ser identificada. Para outros, apenas uma medida de controle e combate à fraude.
E você, acha que a obrigatoriedade de identificação é justa?
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O post “Inclusão: pessoas com deficiência agora terão que se identificar?!” foi publicado em January 12, 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Jornal Cruzeiro do Sul