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18 anos sem Monsenhor Camilo: saudades sim, tristeza não

          Há exatamente 18 anos, em 2 de junho de 2003, o céu ganhava um homem santo e perdíamos um grande sacerdote, o querido e eterno Vigário de Itu, Monsenhor Camilo Ferrarini.

         Como não lembrar, tudo o que ele representou na vida de tantos ituanos? Ele nasceu aos 21 de julho de 1924, no município de Piraquara, próximo a Curitiba no Paraná. Foi registrado com o nome de Alberto Ferrarini. Estava no 1º ano de Direito quando entusiasmado pelas missões, sentiu a vocação pelo Sacerdócio; largou então o curso e ingressou na Congregação dos Padres Passionistas no Convento do Cabral em Curitiba 1946.

        Foi ordenado Sacerdote aos 12/06/1954 na Igreja dos Padres do Verbo Divino, em Santo Amaro/SP. No dia seguinte, 13/06/1954, rezou a 1ª Missa na Igreja do Calvário também em São Paulo.

       Ao ser ordenado sacerdote, adotou o nome de Pe. Camilo de Nossa Senhora da Saúde, Passionista. Escolheu o nome Camilo, em homenagem a devoção que tinha a São Camilo de Lellis, santo dos enfermos, e Na. Sra. da Saúde por ser grande devoto de Maria Santíssima e ser a padroeira da Igreja onde foi batizado e viveu participando ativamente até chegar ao sacerdócio. (Toda sua família vive nos arredores da Igreja de Na. Sra. da Saúde, município de Colombo/PR até hoje).

       Após ser ordenado iniciou seu sacerdócio por Osasco, depois voltou a trabalhar em missões em diversos municípios do Paraná.         Em 1965, assumiu pela segunda vez, como Vigário, a paróquia de Santo Antonio, Osasco/SP, onde com seu persistente trabalho, reconstruiu a nova Igreja Matriz de Santo Antonio até a cobertura.

                  Em 1968 , Dom Agnelo Rossi, Cardeal de São Paulo, impõe  vestes talares de “Monsenhor” ao Pe. Camilo, no interior da Matriz de Santo Antônio em Osasco, SP.

Monsenhor Camilo em Itu

           Em 1971, terminado o seu mandato como Vigário Episcopal, Monsenhor Camilo assumiria uma paróquia em Avaré/SP, porém antes resolve participar das festividades em louvor a Santa Rita de Cássia na cidade de Itu/SP.

          Foi então que o povo ituano se encantou com aquele Monsenhor sorridente. E como o então vigário Pe. Luiz Gonzaga já estava de malas prontas para se transferir de Itu, uma comissão de paroquianos se reuniu e resolveu pedir ao Bispo de Botucatu, Dom Zione, a qual pertencia a paróquia de Avaré, que o deixasse ficar em Itu. Depois de muito custo, o Bispo permitiu.

           Foi assim que no neste mesmo ano, Monsenhor Camilo Ferrarini assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Candelária, como vigário, desligando-se de vez da Congregação dos Padres Passionistas e tornando-se Padre Secular incardinado definitivamente na Diocese de Jundiaí, pelo bispo Dom Gabriel.

           O Monsenhor Camilo fazia de cada Missa que celebrava uma verdadeira missão. A participação dos fiéis, dos jovens, das crianças era intensa e verdadeira sempre esclarecendo ao povo a respeito das verdades cristãs. As missas na igreja Matriz eram todas lotadas, e muitas pessoas assistiam de pé por falta de lugar nos bancos.

           Para Itu, sua importância é inegável. À frente desta paróquia foi um “construtor de igrejas”, ajudou a construir diversas delas. Dizia queria que cada bairro tivesse a sua capela ou igreja, e muitas destas se tornaram paróquias.         

           Ele motivou muito o terço das famílias, onde ao final de cada mês celebrava uma missa em um bairro diferente e benzia todas as casas.

           Também todas as primeiras sextas-feiras visitava os doentes, levando a comunhão, não importava o bairro, nem se era sua paróquia ou não. Muitas vezes, deixava mantimento ou um dinheiro para as famílias dos doentes mais carentes. Um de suas virtudes era a bondade.

            Sempre com um sorriso no rosto, cativava as crianças, a quem tinha um carinho especial, e os jovens, trazendo-os para participarem dos movimentos da igreja.

          Sua missa das crianças, aos domingos, era uma verdadeira festa. A igreja ficava lotada tanto de crianças, como de jovens e adultos. As músicas eram alegres e todas com gestos. Chegou a ter mais de 80 coroinhas de uma vez só, além das crianças da catequese, do MAC (meninas que ajudavam casamento) e do MEJ ( movimento eucarístico jovem) MUPA( movimento unido paroquial em atividade), depois o JACA( jovens a caminho de cristo no amor).

           Quantos batizados, primeiras comunhões, crismas, retiro de jovens, encontro de casais, realizou em toda parte desta cidade, tanto na região urbana como na zona rural.

           Incentivou o povo ituano a ter mais devoção a Santa Rita de Cássia, a Santa dos Impossíveis, transformando na maior festa religiosa da cidade, até os dias de hoje.          

          Saia benzendo as fazendas e recebendo prendas e boizinhos para as festas da Padroeira, do Divino, de Santo Antônio e tantas outras.

           Na quaresma, havia as mais belas “via sacras”, onde os fiéis realmente participavam; a semana santa tão piedosa, que se encerrava no domingo de páscoa com a procissão de encontro, as 6 horas da manhã lotada de gente.

           Muitos que viveram o tempo de “Monsenhor Camilo, perseveram até hoje na fé e na doutrina da igreja. Com suas palavras e carisma conduziu as crianças, motivou os jovens e converteu muitos adultos afastados da igreja a participarem e viverem o Evangelho de Jesus Cristo.

           Foi um exemplo de sacerdote, amigo, irmão, conselheiro, confessor e até de um pai. Não tinha quem não gostasse dele, mesmo de outras religiões, vinham até ele para um abraço, uma palavra, um conselho.

          Na qualidade de Pároco da Matriz de Itu, exerceu este cargo por 23 anos de 1971 a 1994, quando no dia 10 de abril deste ano, se desligou do vicariato da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária.

          Porém continuou morando em Itu em uma casa que construiu no Bairro Rancho Grande, onde mesmo aposentado atendia as pessoas, auxiliava outros padres da cidade, celebrava casamentos, missas, batizados, atendias doentes, benzia casas e ia onde o chamavam.

          Não sabia dizer não, estava sempre disposto a ajudar a todos.

          O Monsenhor Camilo com seu jeito simples e cativante, dava uma bênção, conversava e aconselhava as pessoas, e estas saiam diferentes. Muitos voltavam contando das graças alcançadas e agradeciam a ele pelas orações. Foram inúmeros casos relatados a ele em vida, que poderíamos dizer que foram milagres, porém ele sempre dizia “Se pedir a Deus com fé, ele o atenderá”.

          Ele era de muita oração e devoção a Nossa Senhora. Tinha seu oratório no quarto e se recolhia em determinados momentos do dia, dizendo que ia falar com Deus.

         Em maio de 1997, após um Check-up, descobriu uma leucemia do tipo I. Começou um longo tratamento e devido a sua doença foi obrigado a parar de atender as pessoas em sua casa. Terminado o tratamento verificou-se que sua doença estava controlada, mas que exigia cuidados.

           Voltou a trabalhar, celebrando missas e muitos casamentos e atendendo com moderação ao povo em sua casa. Até que sofreu um acidente de carro, em 1998, em uma visita aos seus parentes na Itália, aonde escapou com vida graças a Santa Rita a quem gritou por seu nome na hora do acidente.

              Se recuperou, mas logo depois surgiram os primeiros sinais de outra doença, o Mal de Parkinson. Esta doença o impedia de se locomover com facilidade, limitando também outros movimentos e dificultando principalmente a sua voz. Isso o deixava muito chateado e as vezes desanimado por não poder fazer mais as coisas que gostava.

             Estas duas doenças contribuíram para que seu organismo ficasse debilitado, e propenso a ter pneumonia.

            No ano de 2003, resolveu passar a festa da Páscoa em Curitiba. Estava muito feliz e disse que queria visitar todos os seus familiares. Porém no dia 18/04/2003, sexta-feira santa, começou a ter muita febre e tremor. Levado ao Hospital em Curitiba, verificou-se que estava com começo de mais uma pneumonia. 

          Então após 22 dias de internação, conseguiu-se a remoção para o Hospital Sanatorinhos ( Santa Casa) de Itu, no dia 12/05/2003.

         Mesmo estando na sua cidade natal, junto dos seus familiares, só falava que queria voltar para casa. Ele Sempre deixou claro que queria terminar seus dias e ser enterrado na cidade que mais amava, ITU

                A muito tempo não víamos o Monsenhor Camilo tão feliz e agradecido a Deus por ter voltado a “sua” cidade.  Recebeu os melhores tratamentos, mas seu organismo estava muito fraco e não reagia aos medicamentos, a febre voltou junto com mais uma pneumonia.

          Ficou mais 12 dias na UTI, e como o estado era irreversível, resolveram voltar ele para o quarto para pudesse ficar perto das pessoas que ele gostava. Ele já não falava, não se movimentava, e se alimentava por sonda enteral, mas esteve sempre consciente, e ficou com um olhar fixo na imagem de Santa Rita pelos últimos 4 dias de vida.          

            Na madrugada do dia 02/06/2003, às 03:10 h, veio a falecer no hospital em Itu. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz de N.S. da Candelária, aonde milhares de fiéis fizeram fila para dar o último adeus durante todo o dia. Seu caixão estava repleto das mais variadas qualidades de orquídeas que era uma grande paixão que ele tinha.

            Às 16h foi celebrada uma missa de corpo presente com a igreja completamente lotada. A celebração foi ao som de violão e com músicas da “missa das crianças”, foi muito comovente. Seu féretro foi conduzido pelo corpo de bombeiro, passando pelas ruas da cidade de Itu, inclusive parando por um minuto em frente a Igreja de Santa Rita , a pedido da família. Muitas pessoas chorando e emocionadas foram a pé atrás do caminhão do corpo de bombeiro até o cemitério municipal aonde foi enterrado já no início da noite, cercado por uma multidão que cantavam e gritavam vivas ao Monsenhor Camilo, enquanto ele era sepultado.

        Felizes e abençoadas são as pessoas que puderam conhecer e conviver com o querido Monsenhor Camilo Ferrarini, o eterno “Vigário de Itu.”

       Podemos dizer sem medo de errar, que ele foi e será sempre um exemplo vivo de Humildade e Santidade.         

        Ele foi um presente enviado por Deus a esta cidade.

       A saudade que sentimos, é um vazio, e ao mesmo tempo uma sensação de que ele não sai do nosso lado, está vivo no coração e na memória de cada um que teve o privilégio de conhecer e conviver com ele, um sacerdote de extrema bondade, caridade e sorriso largo, que com certeza intercede por nós junto a Deus.

*Texto de Milva Guarnieri, que foi criada por Monsenhor Camilo e deu o mesmo nome para seu filho. Morou com ele por 27 anos.  

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